IA: uma via para a paz global e o desenvolvimento humano integral

04.03.2024

Na quarta-feira, 21 de fevereiro, NetOne juntamente à ONG New Humanity, em colaboração com a Missão da Santa Sé nas Nações Unidas, organizou a iniciativa “AI: A Pathwayto Global Peace and Integral HumanDevelopment” (AI: uma comunidade para a paz global e desenvolvimento humano integral), que aconteceu em Nova Iorque, UNHQ, ConferenceRoom 6, das 13:15 às 14:45 e foi seguida online em diversas partes do mundo (https://www.net-one.orghttps://www.new-humanity.org; https://holyseemission.org/)

A saudação de abertura de Vossa Excelência Reverendíssima Arcebispo Gabriele Caccia, observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, deu o tom das reflexões: “Estamos à beira de uma revolução tecnológica sem precedentes na história da humanidade. A emergência da IA está remodelando o nosso mundo de modo profundo e sem precedentes. Da revolução das indústrias à transformação do nosso modo de viver, trabalhar e interagir, a IA tornou-se uma força motriz de mudança no século 21”.
Nos últimos anos, o progresso digital trouxe oportunidades e desafios significativos, com graves implicações em todos os âmbitos da sociedade. Nessa época, as rápidas mudanças tecnológicas, a Inteligência Artificial (IA) emergiu como um dos instrumentos mais potentes, com o potencial de transformar a sociedade, de promover a paz e alcançar o desenvolvimento sustentável. Todavia, as suas implicações éticas permanecem objeto de um intenso debate.
MaddalenaMaltese, jornalista e representante da ONG New Humanity, moderadora da mesa redonda do evento, recordou que “em 1º de janeiro passado, o Papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Internacional da Paz, levantou questões urgentes sobre a IA: “Quais serão as consequências, a médio e longo prazo, dessas novas tecnologias digitais? E quais impactos terão sobre os indivíduos e sobre a sociedade, assim como sobre a estabilidade e sobre a paz internacional?” Ele também colocou em evidência que o secretário geral António Guterres, discutindo as prioridades para 2024, sublinhou que a IA será de interesse de toda a humanidade, reiterando a necessidade de uma abordagem universal para encará-la.

A mesa redonda, por meio do diálogo entre as diversas partes interessadas sobre os desafios éticos apresentados pela IA e pelas estratégias, discutiu a interação entre considerações técnicas, éticas, políticas, legais e econômicas.
Padre Philip Larrey, professor de Filosofia no Boston College, decano de Filosofia da Pontifícia Universidade Lateranense, presidente do Humanity 2.0, expôs uma série de questões urgentes com base no tema da paz. “ChatGPT ou Gemini podem escrever um perfeito plano de paz, olhando para as situações que estamos vivendo, mas estaremos dispostos a seguir essas indicações?”, disse Larrey ao enfatizar o fator humano como decisivo nas decisões a serem tomadas, também quando se trata de armas letais. Outro tema central do seu discurso foi aquele da empatia que podemos demonstrar às máquinas e que, às vezes, têm preferência sobre o elemento humano. “Os seres humanos compreendem o significado. As máquinas não, embora elas estejam se tornando muito boas em simular o que consideramos significativo”, insistiu o professor do Boston College, alertando contra o desafio, sempre mais difícil, de discernir o que pertence ao homem e o que pertence à tecnologia, com máquinas que no futuro poderão ser também programadas para ter sentimentos.

Laura Gherlone, pesquisadora em Semiótica pelo Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas da Argentina e docente na Universidade Católica da Argentina, membro da Comissão Internacional de NetOne, falou da Inteligência Artificial e, de forma geral, das tecnologias digitais à luz do pensamento da deocolonização digital. Ela sustentou que “hoje, os contextos pós-coloniais se encontram em uma encruzilhada: retroceder ou alcançar. Eles são forçados a acelerar drasticamente alguns processos que hoje incorporam um modelo de consciência tecnocêntrica, presumivelmente universal: a digitalização e a implementação de sistemas de inteligência artificial estão entre esses processos”. Ela afirma que esse processo “tem sempre um custo alto, em pelo menos três níveis: em nível econômico e técnico-estruturante, em nível social e, enfim, a adoção acelerada e forçada do progresso tecnológico como percurso até um modelo universal de consciência”. Gherlone sugere que “o debate ético sobre IA poderia ser notavelmente enriquecido por uma reflexão deocolonial, integrada, por exemplo, ao trabalho daqueles movimentos coletivos empenhados em repensar e redesenhar a arquitetura técnica ‘do Sul’, ou soluções teórico-metodológicas e práticas que, muitas vezes, são deixadas de lado porque distantes das lógicas do lucro”.

No encerramento do evento, duas boas práticas da sociedade civil
Marianne Najm, engenheira de comunicações com sede em Beirute, se concentrou sobre a ética de IA e sobre o conceito de juramento digital para os engenheiros e para quem quer que seja ativo no mundo digital. O projeto foi iniciado em 2019 inspirando-se no juramento de Hipócrates, o juramento que a maior parte dos médicos e médicas fazem ao final de seu percurso acadêmico. Assim como o juramento de Hipócrates tem como objetivo visa despertar a obrigação humana dos atores digitais, direcionando o seu trabalho para um projeto eticamente centrado no homem.
Marcelle Momha, camaronesa que vive nos Estados Unidos, analista das políticas e pesquisas tecnológicas especializadas em inteligência artificial, tecnologias emergentes e cyber segurança, preparou uma intervenção sobre a comunidade AI 2030, que para o momento não foi possível ilustrar, mas que está disponível nesse link. “AI 2030 é uma vivaz comunidade de líder empresários, cientistas de dados, profissionais de tecnologia da informação e pesquisadores pioneiros dedicados a estruturar o poder de transformação da inteligência artificial em benefício da humanidade reduzindo ao mínimo o potencial impacto negativo”, explica Marcelle sobre o seu tema.
Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, o Santo Padre recordou que “os progressos tecnológicos que não levam a uma melhora da qualidade de vida de toda a humanidade, mas, ao contrário, agravam as desigualdades e os conflitos, não podem jamais serem considerados um verdadeiro progresso”. Como organizações da sociedade civil, queremos acompanhar os esforços das Nações Unidas e de todos aquelas instituições que estão trabalhando por um empenho ético no campo da tecnologia que apoiam os progressos digitais como contribuição à promoção dos princípios humanos de paz e fraternidade.

É possível ver a transmissão por meio desse link: https://webtv.un.org/en/asset/k1h/k1hpuunffo

Os discursos:

Sua Eccellenza l’Arcivescovo Gabriele Caccia

Laura Gherlone ricercatrice in semiotica membro della Commissione Internazionale di NetOne

Marianne Najm ingegnere delle comunicazioni

Marcelle Momha -Good Practices_ AI Meeting with UN Holy See & NH

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